domingo, 5 de outubro de 2008

As mazelas do capitalismo



Ao oferecer um empréstimo de último minuto de US$ 85 bilhões ao American International Group (AIG), a seguradora em dificuldades, os Estados Unidos deram as costas às virtudes do livre mercado e aos riscos de intervenção do governo, e certamente minou futuros esforços americanos para promover essas políticas no exterior.
Para os oponentes do livre mercado na Europa e em outros lugares esta é uma oportunidade de ouro que não será esquecida, uma vez que os Estados Unidos negaram seus princípios fundamentais em seu comportamento.
É verdade que temos que considerar que crises financeiras anteriores na Ásia, Rússia e México obrigaram os governos a intervir, porém, esta é a primeira vez no coração do capitalismo, o que é enormemente mais prejudicial em termos de credibilidade da economia de mercado.
Vamos lembrar que no final dos anos 90, quando o FMI ofereceu US$ 20 bilhões para ajudar a Coréia do Sul a sobreviver à crise financeira asiática, uma das condições impostas foi a de que o governo sul-coreano deixasse os bancos e empresas em dificuldades falirem em vez de socorrê-los. O AIG está em uma liga diferente por causa da amplitude de seus negócios e suas extensas operações no exterior, especialmente na Ásia.
O motivo real pelo qual os Estados Unidos optaram por salvar o AIG é porque apesar da empresa, com sede em Nova York, ser mais conhecida pela venda de produtos convencionais como apólices de seguro e planos de previdência privada supervisionados pelos reguladores nos Estados Unidos, ela também está profundamente envolvida no mercado opaco e de risco de derivativos e outros instrumentos financeiros complicados, que operam em grande parte fora da regulação. Além da ameaça às apólices de milhões de consumidores comuns, foi a ameaça representada por estes instrumentos financeiros arcanos que levou Washington a socorrer o AIG.
A discussão fica à margem de se os Estados Unidos erraram ou não na tomada de sua decisão, o fato é que eles perderam credibilidade para pressionar pela abertura de mercados no exterior para a concorrência estrangeira e pela liberalização das economias.

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