terça-feira, 21 de abril de 2009

O que poderá vir após o capitalismo?

O sistema bancário americano enfrenta perdas de mais de US$ 3 trilhões. O Japão está em uma depressão. A China caminha para crescimento zero. Alguns ainda esperam que uma cirurgia de emergência possa restaurar o status quo. Entretanto, cada vez mais pessoas sentem que estamos em um daqueles pontos raros de inflexão quando nada será novamente o mesmo.
O que poderá vir após o capitalismo?
Há poucos anos atrás a pergunta foi abandonada, considerada tão sensível quanto perguntar o que viria após a eletricidade. Mas a lição do próprio capitalismo é de que nada é permanente. Dentro do capitalismo há tantas forças que o minam quanto há forças que o conduzem adiante.
Nas primeiras décadas do século 19, as monarquias da Europa pareciam ter se livrado de seus desafiantes revolucionários, cujos sonhos foram enterrados na lama de Waterloo. Monarcas e imperadores dominavam o mundo e tinham provado ser extraordinariamente adaptáveis. Assim como os atuais defensores do capitalismo, aqueles que os apoiavam podiam argumentar de forma plausível naquela época que as monarquias estavam enraizadas na natureza. Mas assim como a monarquia se deslocou do centro do palco para a periferia, o capitalismo não mais dominará a cultura e a sociedade tanto quanto atualmente. Em resumo, o capitalismo poderá se tornar servo em vez de mestre, e a atual depressão acelerará esta mudança.
O capitalismo tem um relacionamento complicado com a política: às vezes restringido e domado por ela, às vezes buscando dominá-la. O mesmo padrão pode ser visto nos Estados Unidos, onde ambos os partidos estão emaranhados em Wall Street - um motivo para terem tido dificuldade em responder a uma crise como essa.
Há apenas poucas décadas, havia grande interesse no que substituiria o capitalismo. As respostas variavam de comunismo ao gerencialismo, e de esperanças de uma era dourada de lazer a sonhos de um retorno à harmonia comunitária e ecológica. Mas o capitalismo inquieto continuava a fornecer base para a crença de que poderia destruir a si mesmo. O materialismo capitalista minava os incentivos para as pessoas terem filhos, sacrificando renda e prazer pelo esforço árduo da vida familiar. Além disso, há uma vulnerabilidade na questão do consumo: após atender com sucesso as necessidades materiais das pessoas, o capitalismo é ameaçado se então perderem o interesse no trabalho árduo e em ganhar dinheiro, optando pelo aconselhamento da nova era, a anos de pausa de meia-idade e aos fins de semana com três dias. A única resposta do capitalismo é investir cada vez mais na criação de novas necessidades alimentadas pela ansiedade por status, beleza ou massa corpórea, um resultado perverso que pode tornar as sociedades capitalistas desenvolvidas mais problemáticas psicologicamente do que seus pares pobres.
Nos países altamente endividados, simplesmente haverá menos consumo e mais poupança. É uma ironia que muitas das medidas adotadas para lidar com o impacto imediato da recessão, como os pacotes de estímulo fiscal, apontem na direção oposta do que é necessário a longo prazo. Mas já há fortes movimentos para restringir o excesso do consumismo em massa.

O conhecimento também está dividido entre modelos capitalistas e alternativas cooperativas. Há uma década, todas as políticas industriais de cada governo valorizavam a criação e proteção da propriedade intelectual. Mas contrariando as expectativas, modelos diferentes também prosperaram. Uma proporção alta dos programas usados na Internet possui código fonte aberto.
Muitos acontecimentos estão forçando os Estados a considerarem de novo como socializar os novos riscos. As duas últimas acomodações - a do final do século 19 e de meados do século 20- tratavam em sua raiz do risco, enquanto os governos assumiam a tarefa de proteger as pessoas do risco da pobreza na velhice, saúde ruim e desemprego. A China parece destinada a alcançar o Ocidente neste aspecto; ela precisa desesperadamente criar um serviço de saúde e Estado de bem-estar social viável caso o Partido Comunista deseje permanecer legítimo e conter uma reação política contrária aos excessos capitalistas. Para a maioria, o abismo entre o que é necessário e o que é oferecido está crescendo, à medida que a expectativa de vida continua crescendo e a incapacidade se torna a norma.
A tendência mais longa é de ver o produto interno bruto com menos importância do que outras medidas de sucesso social, incluindo o bem-estar.
A crise do capitalismo é, é claro, global, e tem exibido as limitações das instituições globais que foram moldadas há meio século. A China caminha para se tornar um agente dominante em um Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial fortalecidos, seguida pela Índia e Brasil. O G20 está superando o G8 como o clube que importa. E no aguardo estão possíveis novas instituições para policiamento e gestão do carbono.
O resultado é que um grande espaço político está se abrindo. A curto prazo, ele está sendo preenchido com raiva, medo e confusão. A longo prazo ele poderá ser preenchido com uma nova visão do capitalismo, e seu relacionamento tanto com a sociedade e a ecologia, uma visão que será mais clara a respeito do que queremos para crescer e o que não queremos.
No passado as democracias domaram, guiaram e ressuscitaram repetidas vezes o capitalismo. Elas impediram a venda de pessoas, votos, cargos públicos, trabalho infantil e órgãos do corpo, e asseguraram o cumprimento de direitos e regras, assim como despejaram recursos para atender a necessidade do capitalismo de ciência e perícia, e foi desta mistura de conflito e cooperação que o mundo atingiu progresso extraordinário no último século. Nós precisamos reacender nossa capacidade de imaginar, e ver através da tempestade que ainda está se formando o que se encontra além.

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