domingo, 4 de outubro de 2009

China: aliado ou inimigo americano na questão nuclear iraniana?



O presidente Barack Obama, em sua primeira visita à abertura da Assembléia Geral, obteve progressos na quarta-feira em duas questões-chave, cruciais para sua agenda de política externa, ao obter uma concessão da Rússia de considerar novas sanções duras contra o Irã e obtendo o apoio de Moscou e de Pequim para uma resolução do Conselho de Segurança para coibir a proliferação de armas nucleares.

Se as palavras de Medvedev se traduzirão em uma ação forte assim que o assunto retornar ao Conselho de Segurança é algo que ainda precisa ser visto. As autoridades americanas já ficaram decepcionadas antes com a rejeição de Moscou por sanções duras, e o primeiro-ministro Vladimir V. Putin pareceu colocar em dúvida a necessidade de sanções mais duras na semana passada. Mas Obama também recebeu outro apoio da Rússia, assim como da China, quando os dois países concordaram em apoiar o fortalecimento do Tratado de Não-Proliferação Nuclear em uma sessão do Conselho de Segurança, marcada para quinta-feira.

Em entrevista ao "Spiegel", Ali Akbar Salehi, diretor-geral da Organização de Energia Atômica do Irã, fala sobre as exigências feitas pelo Ocidente a Teerã, as futuras conversas sobre a questão nuclear entre o Irã e os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU em 1º de outubro e as consequências de sanções mais rígidas.

Segundo ele, o Irá jamais vai abrir mão dos programas de enriquecimento de urânio para fins civis; nem nesse governo, nem em nenhum outro. Aacrescentou, ainda, que o fato de o Ocidente repetir insistentemente que o enriquecimento de urânio é para fins nucleares não torna o fato uma verdade.
De qualquer jeito, é importante que os EUA atentem para o fato de que, apesar dessa disposição em apoiá-los, a China mantém relações com o Irã e não vê da mesma forma que os EUA essa ameaça relacionada as questões nucleares. Em agosto, quase ao mesmo tempo em que os americanos chegavam à China, Teerã e Pequim fecharam outro acordo, desta vez de US$ 3 bilhões, que abrirá o caminho para a China ajudar o Irã a expandir mais duas refinarias de petróleo.

Os Estados Unidos quase não possuem laços financeiros com o Irã, consideram seu governo uma ameaça à estabilidade global e temem que uma ascensão de Teerã possa ameaçar as alianças e acordos de energia dos Estados Unidos no Golfo Pérsico.

Por sua vez, os laços econômicos da China com Teerã estão crescendo rapidamente, e os líderes da China veem o Irã não como uma ameaça, mas como um aliado potencial. Nem os chineses ficariam preocupados, prossegue o raciocínio, caso um Irã dotado de armas nucleares minasse a influência americana na região e drenasse os recursos do Pentágono em mais manobras no Oriente Médio. Além disso, a China depende muito das vastas reservas de energia do Irã - talvez 15% dos depósitos de gás natural do mundo e um décimo do seu petróleo - para compensar sua própria escassez. Estima-se que os chineses tenham US$ 120 bilhões destinados a projetos de gás e petróleo iranianos e a China é o maior mercado para exportação do petróleo iraniano nos últimos cinco anos. Em troca, o Irã tem importado ferramentas, maquinário de fábrica, locomotivas e outros bens pesados da China, transformando a China em um de seus maiores parceiros comerciais.

Apoiar sanções mais fortes poderia elevar a imagem da China como líder diplomática global, mas os Estados Unidos, e não a China, colheriam os verdadeiros benefícios. A China não está ansiosa para embarcar neste trem americano.

2 comentários:

Anônimo disse...

De fato, há muitas coisas entre China e Irã que o céu há de conter. rs

Bjs, Renata Settelz.

Júlio Guerra disse...

Saiu uma matéria muito interessante no The Economist sobre isso, no mês passado.

O tema é polêmico demais.