Unidos pela desigualdade e a poluição, os dois países são lugares muito desagradáveis para viver e de extremas dificuldades para 1 bilhão de pessoas. Somente 77% da população chinesa têm acesso à água limpa, contra 86% na Índia. Enquanto a economia cresce, a poluição e a desigualdade também aumentam.
Um relatório do semanário "Economic and Political Weekly", de Bombaim, baseado no Relatório sobre Desenvolvimento Humano da ONU, oferece uma comparação desconcertante entre os dois gigantes asiáticos, sem dúvida gigantes com pés de barro.A publicidade de uma escola para ricos em Bombaim (Índia) anuncia que ali são servidas às crianças "comida de diversas tradições: mexicana, indiana e chinesa, água mineral garantida e frutas e verduras de fazendas ecológicas".
O anúncio contrasta com a descrição que um observador dessa cidade faz da Índia: "É o país que tem mais crianças fora da escola e mais analfabetos no mundo". Outra cena, esta em Benares: um grupo de mendigos aguarda que um restaurante termine a jornada. Esperam as sobras do dia. É uma imagem que não se vê na China, mas esta, sendo muito mais próspera e moderna, também é mais desigual que a Índia. Desigual nas rendas de seus cidadãos e também entre suas regiões.
O chamado coeficiente Gini, que mede o nível de desigualdade de renda entre as pessoas, é muito mais alto na China (44,7) que na Índia (32,5). A relação entre o consumo dos 20% mais ricos e dos 20% mais pobres é superior a 10 na China e não chega a 5 na Índia. Entre regiões, a renda per capita na região mais rica da China (Xangai) é 13 vezes maior que a da província mais pobre (Guizhou). Na Índia, Chandigarth supera Bihar em nove vezes.
Que a China lidere em desigualdade não significa que a situação seja melhor na Índia, onde há mais de 400 milhões de camponeses pobres, com renda anual de 290 euros, e que ganham o mesmo que o famoso milhão de engenheiros de software indianos.
"Nossa taxa de crescimento é a inveja de muitos, temos 100 mil milionários em dólares e nosso índice de mortalidade infantil desacelerou, mas a Índia responde anualmente por 2,5 milhões de mortes infantis e nos últimos dez anos 112 mil agricultores se suicidaram, a maioria deles angustiada por dívidas", diz P. Sainath, especialista em assuntos agrícolas do jornal "The Hindu". "Somos o quinto 'ciberpaís' do mundo, mas mais de um quinto de nossa população não pode se permitir nenhum tipo de assistência médica", acrescenta. A Índia tem cinco vezes mais crianças com menos de 5 anos sofrendo desnutrição que a China.O sucesso da China cobra uma vultosa fatura energética e ecológica. A situação das águas - lagos, rios e abastecimento urbano - é pior na China, onde só 77% da população têm acesso a água limpa hoje, contra 86% na Índia.
Quando as previsões dos grandes centros e bancos da globalização anunciam, ignorando as incertezas da economia global, que nas próximas décadas a China dominará a economia mundial, com a Índia um pouco atrás, deve-se perguntar também pela tendência oculta dessa corrida. Os dois países são hoje lugares muito desagradáveis para se viver e de extremas dificuldades para 1 bilhão de seres humanos.
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