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segunda-feira, 28 de junho de 2010

"O Solista", de Steve Lopez


Acabei de ler "O Solista", de Steve Lopez. Mal tenho palavras para expressar a magnitude dessa obra, é de uma grandiosidade tamanha.

O livro é baseado na história do talento musical Nathaniel Ayers, que estudou na famosa escola de artes Juilliard, em Nova Iorque, e que desenvolveu esquizofrenia no seu segundo ano de estudo. Ayers acabou como sem-teto nas ruas do centro de Los Angeles, onde toca violino e violoncelo.

O Solista sé ambientado nos anos 70, na caótica cidade de Los Angeles, onde o jornalista Steve Lopez escreve sobre o cotidiano da cidade. Certa vez ele escuta um músico sem-teto executar com perfeição obras de Beethoven numa praça do centro. Instigado com tamanho talento, descobre que ele se chama Nathaniel Ayers Junior e que foi aluno da prestigiada escola Julliard, da qual fugiu após um surto de esquizofrenia. Apesar de se deixar abater pela doença, Ayers mantém viva a paixão pela música e seu talento nato nas suas performance.
Há todo um elemento racista nessa questão, já que Ayers se refugia na música e em seus próprios delírios esquizofrênicos para fugir do meio hostil em que vive. 

Como diz o grande mestre Maurício Santoro, "O Solista traz vivo o sentimento de defender certos valores que fazem a vida valer a pena". E de fato é isso. Na verdade, há grandes conexões também com a extrema pobreza nos Estados Unidos, a Depressão da década de 1930 e a crise atual.

Me orgulho não somente de ter lido essa obra singular, mas de ter negociado a compra de direitos e o contrato em 2009, viabilizando a publicação no Brasil.

sábado, 22 de maio de 2010

The Talent Code, de Daniel Coyle




Finalmente acabei de ler o livro O Código do Talento - original The Talent Code - de Daniel Coyle, após uma semana da pausa forçada.

Coyle é escritor, jornalista esportivo e um dos editores da revista Outside. Seu último livro, The Talent Code, foi lançado como sendo um programa para desenvolver habilidades especiais aplicáveis a vida pessoal e aos negócios.

Eu sempre desconfio de livros que dizem trazer alguma receita mágica para coisas extraordinárias e a minha decisão de lê-lo foi apenas por curiosidade. Realmente fiquei encucada com o que seria "o código do talento", se é que tal coisa existe. Agora descobri.

Na verdade, me fez lembrar um pouco de quando li o livro The Scent of Desire: Discovering Our Enigmatic Sense of Smell, de Rachel Herz: um excelente não-ficção sobre a importância vital do olftato nas nossas vidas.

É um livro extremamente descritivo. O autor viajou o mundo em busca de uma explicação para o talento  e sua evolução à perfeição, portanto, tem muita história para contar. Um dos lugares de investigação foi, inclusive, o Brasil. E advinhem que resposta Daniel Coyle veio buscar aqui? Essa: por que o Brasil produz tantos jogadores de futebol extremamente talentosos e habilidosos?

Bom, pode-se dizer que o código do talento se baseia em descobertas científicas revolucionárias sobre um isolante neural chamado "mielina", atualmente considerado por cientistas o Santo Graal da aquisição de habilidades. Basicamente, um padrão de treinamento dá origem a uma habilidade e isso nos permite entrar em uma zona de aprendizado acelerada. Logo, quanto mais tempo e energia investimos, maior habilidade adquirida. Além disso, é importante manter em mente que o esforço realizado de maneira direcionada a certo objetivo - operado no limite da habilidade, no qual comete erros - torna-o mais inteligente.

Achou básico? Não é. Leia o livro e vai ver que muitas vezes estudar o que achamos básico nos surpreende e nos faz perceber o quão profundas podem ser algumas coisas elementares, se tivermos paciência para descobri-las em toda sua totalidade e usá-las a nosso favor.

No livro, o autor cita os lugares que visitou, alunos e treinadores que conheceu e histórias que acompanhou; além de percepções interessantes sobre todo esse tema. Não sei se de fato é um programa para desenvolver habilidades especiais aplicáveis a vida pessoal e aos negócios, mas faz refletir sobre se estamos  usando as estratégias corretas para desenvolver nossos pontos fortes, além de pensar sobre o que podemos fazer melhor para alcançar determinado objetivo.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O caminho da vida - Viva 2010!



Para saudar o Ano Novo, Chaplin:

"O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.

A cobiça envenou a alma dos homens, levantou no mundo as muralhas do ódios e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios.

Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.

Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.

Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido."

Charles Chaplin

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

"A Condição Humana", de Andre Malraux


André Malraux foi um escritor francês de assuntos políticos e culturais. É, além de um grande escritor, um grande pensador da época. Tanto que Hannah Arendt, em um ensaio sobre as contribuições européias contemporâneas para a filosofia política, discute a obra de Malraux. Foi amigo pessoal de Camus, assim como de Charles De Gaulle. Participou ativamente da resistência francesa durante a ocupação nazista na Segunda Guerra Mundial.

Publicado em 1933, entre duas grandes guerras e em um período pré-revolução chinesa, “A Condição Humana” revela as conclusões tiradas por André Malraux sobre os homens, em geral.

Descreve também a condição humana européia diante da globalização e a possibilidade de uma ascensão efetiva à consciência humana. Fala da era atômica, no tempo em que não se concebia ainda a destruição em massa. O autor também não esquece a crise de 1929, que lançava o mundo numa confusão econômica, e se pauta também sobre o nacionalismo chinês.

Quanto aos personagens, os temas são distintos e seus dilemas variam: Tchen e o assassínio, Clappique e a loucura, Katov e a revolução, May e o amor, Gisors e o ópio, Kyo e sua indiferença, etc.

A linguagem do livro não é fácil e a leitura não é dinâmica. Faz facilmente um leitor desinteressado e de fim de semana desistir no livro no primeiro capítulo. Quem seguir até o fim, terá o prazer de desfrutar dos conflitos de existência de seus pergonagens em meio a uma época de guerra e sofrimento.

De certa forma, me fez lembrar os dilemas de Raskólnikov (Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski) o famoso jovem estudante russo que comete um assassinato e se vê perseguido por sua incapacidade de continuar sua vida após o ato. Mas não há semelhanças entre uma obra e outra, apenas me fez recordar o prazer que foi ler Dostoiévski.

Bom, indico "A Condição Humana", de Andre Malraux, para quem tiver paciência e interesse por temas de história e política.

domingo, 22 de novembro de 2009

De cuba, com carinho



Na sexta-feira pela manhã terminei de ler o livro "De Cuba, com carinho", da famosa blogueira cubana Yoani Sanchez. O livro é um apanhado maravilhoso dos melhores textos - selecionados pela própria autora - de seu polêmico blog Generación Y, que, com milhões de acessos mensais, foi eleito um dos 25 melhores blogs do mundo. Da mesma forma., Yoani foi eleita pela revista Time uma das mulheres mais influentes do mundo.

Vale citar que em Cuba a compra de computadores é proíbida, assim como o acesso a internet. Somente estrangeiros residentes no país e pessoas autorizadas pelo governo podem desfrutar desse "luxo". Yoani conta com uma rede de amigos e seguidores em  vários países, especialmente cubanos que vivem no exterior, para postar seus textos clandestinamente. Enquanto não era uma pessoa pública, era ainda conseguia se passar por estrangeira - com pele branca, herdada dos avós espanhóis - e acessar a internet em hóteis, pubs e cafés, quando tinha algum dinheiro.

A autora se concentra em relatar - da forma mais sagaz, inteligente e sarcástica possível, -o cotidiano da vida na Ilha. Ela aborda temas como o racionamento dos alimentos, a precariedade da saúde e educação, pirataria e contrabando, como também faz duras críticas políticas e ideológicas ao governo de Fidel e Raul Castro. Denomina Cuba, com pesar, como "um país encalhado no tempo".

Um dos melhores textos é o "Venha e viva essa experiência", onde Yoani convida os turistas à visitarem Cuba, mas não da forma como geralmente o fazem. Ela narra como seria o desafio de passar uma temporada na Ilha vivendo como os cubanos realmente vivem e tendo que lidar com uma série de problemas e limitações cotidianas.

Enfim, é uma leitura muito interessante e de linguagem fácil. Está mais do que indicado!


segunda-feira, 20 de abril de 2009

A Cabana, de William P. Young

Comprei A Cabana na noite de sábado, na Livraria da Travessa. Confesso que o comprei apenas para responder a seguinte pergunta: por que, afinal, esse livro se tornou um fenônemo de vendas?

The Shak Book, título original, foi publicado nos EUA por uma editora pequena. No Brasil, a Editora Sextante é quem publica o bestseller.

Durante uma viagem de fim de semana, a filha mais nova de Mack Allen Phillips é raptada. Há evidências de que ela foi brutalmente assassinada em uma cabana abandonada. Após quatro anos vivendo muito triste, causada pela culpa e pela saudade da menina, Mack recebe um bilhete estranho, que teria sido escrito por Deus, convidando-o para voltar à cabana onde aconteceu a tragédia.

No retorno ao lugar sombrio, Mack vê tudo se transformar num piscar de olhos, e experimenta o convívio com a Santíssima Trindade, vivendo experiências com Deus, Jesus e o Espírito Santo.
São dois dias de muitas descobertas e ensinamentos, onde Deus leva Mack a entender o verdadeiro sentido da Criação, da vida e da fé.
No fim, Mack supera sua dor e tristeza para retormar à sua vida normal, só que partindo de um outro ponto de vista.

Minha opinião? Os católicos irão gostar do livro, mas no geral, acho que há algumas falhas religiosas nele.
Mas no todo, a linguagem é fácil e o texto é emocionante, ingredientes iniciais de um bestseller.
Indico, contudo, ainda com algumas ressalvas em relação à seu conteúdo.

domingo, 19 de abril de 2009

O Tigre Branco, de Aravind Adiga


Acabei de ler o livro O Tigre Branco, do indiano Aravind Adiga. Por incrível que pareça, só agora percebi que é o 4º romance indiano seguido que eu leio. Primeiro foram três livros maravilhosos da jornalista indiana Thrity Umrigar (A Distância Entre Nós, A Doçura do Mundo e Um Lugar Para Todos) e agora o de Adiga.


O Tigre Branco foi vencedor do prêmio Man Booker Prize 2008, um importante prêmio de literatura. Aravind Adiga, o autor, é indiano. Morou nos Estados Unidos, Austrália e na Grã-Bretanha. Atualmente está de volta à Índia, morando em Bombaim.


Trata-se de um livro de ficção, um romance original e desconcertante que conta a história da vida de Balram Halwai, um jovem pobre nascido na zona rural da Índia, às margens do Rio Ganges.


Balram conta a história de sua vida através de uma carta que está escrevendo ao Primeiro ministro da China, Mr. Wen Jiabao, que chegará à Índia em poucos dias. O jovem narra ao ministro lições de empreendedorismo, de como se tornar uma pessoa de sucesso na Índia, passando pela descrição da mentalidade de seu povo e contando como as coisas funcionam em seu país.


A narrativa de Balram é fascinante e sarcástica; através dela conhecemos um pouco da Índia moderna, de seus avanços e como isso está refletindo (ou não) na vida da população miserável do país, à margem do desenvolvimento tecnológico e do progresso.


Balram é um rapaz bom e humilde, já desde novo reconhecido na escola por um de seus professores como um "tigre branco", por ter algo de especial que o destacava dos outros. Na natureza, o tigre branco é um animal raro, que nasce apenas um em cada geração de sua espécie.


Na luta pela sobrevivência, Balram se muda para cidade grande e vira motorista de uma luxuosa família. Dia após dia, sua humildade e bondade vão sendo corrompidas pelas imoralidades de uma vida baseada no dinheiro, poder e corrupção.


Vivendo cada vez mais atormentado, Balram planeja o assassinato de seu patrão e o executa com crueldade e frieza. Após isso, foge com uma fortuna de quase 1 milhão de rúpias, muda de nome e se torna um grande empresário indiano, jamais tendo sido reconhecido na rua como o assassino ou tendo sido pego pela polícia.


O romance de Adiga é mais um trabalho na direção de apresentar ao mundo o conflito entre todo o avanço e progresso que vem varrendo as ruas da Índia e o fato de ter a maior parte de sua população subjulgada à miséria, opressão e fracasso.

domingo, 9 de novembro de 2008

If today be sweet, by Thrity Umrigar


Acabei de ler o livro "A doçura do mundo" (versão brasileira do original "If today be sweet"), da jornalista indiana Thrity Umrigar, publicado pela Editora Nova Fronteira.

Não é preciso dizer que Umrigar é uma mulher fascinante e exímia escritora. Jornalista há quase 20 anos, ela escreve para jornais famosos como o Washington Post e Boston Globe. Além disso, é PHD em inglês e leciona redação criativa e literatura na Case Western Reserve University.

Os romances de Umrigar são sempre envolvidos por teias da sociedade moderna e pela capacidade de confrontação entre culturas do mundo moderno.

Nesta obra, o elemento indiano, sempre presente em seus trabalhos, surge para confrontar a realidade fria e próspera dos Estados Unidos da América.

Tehmina Sethna, uma mãe e esposa indiana (parse) de 66 anos, perde o marido Rustom, com quem viveu por toda a sua vida. Desolada e sozinha em Bombay, ela acaba indo passar uma temporada com seu único filho Sorab, de 38 anos, que vive em Ohio (Estados Unidos).

Sorab é um homem de futuro promissor nos negócios. É casado com Susan, uma americana de temperamento forte, porém amável, e pai do pequeno e adorável Cookie.

Com a chegada de Tehmina, o casal tentar reorganizar a vida doméstica para que "mamãe", como é carinhosamente chamada por ambos, possa rapidamente se adaptar e se esquecer do drama pelo qual passou.

Apesar da boa vontade de Sorab e Susan, um grande abismo separa Tehmina dos hábitos e da vida americana, e as confrontações acontecem a todo momento.

Tehmina fica perplexa com o modo frio, materialista e racional de ser dos americanos, com suas casas enormes e isolacionistas, seu supermercados gelados e com frutas e verduras "sem gosto", com suas flores "sem cheiro" e com o ímpeto de não se importar com a vida alheia, ainda que isso signifique ajudar o próximo.

A difícil adaptação de Tehmina aliada à impaciência de Sorab e ao "jeito americano de ser" de Susan começam a dificultar cada vez mais a decisão da matricarca de retornar ao aconchego de sua cidade natal ou permanecer e tentar se adaptar a um novo estilo de vida.

Acima de qualquer coisa, a obra mostra diferenças singulares entre duas sociedades impulssionadas por um grande crescimento econômico, porém ainda com um grande abismo se colocadas frente à frente.

O modo indiano de viver se confronta a cada capítulo com a sociedade americana de hoje, bastante reclusa e intolerante.

Apesar de ser uma obra interessante e bem escrita, o final poderia ter sido um pouco melhor trabalhado. Porém, independente disso, sempre é válido conhecer mais um pouco da Índia moderna através da narrativa implacável e da criatividade aguçada de Thrity Umrigar.